Já houve um tempo em que eu achava que brasileiro não tinha cultura. Sempre achei nosso jeito de ser meio bagunçado, uma mistura de culturas e por isso cada um vivia de um jeito. Sempre admirei a cultura oriental, em especial a indiana. Parece que eles tem tudo escrito numa cartilha e seguem à risca e isso me fazia pensar, erroneamente, que nós não temos nossa própria cultura e estilo de vida.
Conviver com outra cultura (como a indiana) fez eu abrir os olhos para a minha e vi o quanto mantemos nossas tradições, nosso estilo de vida que não nos diminui.
Nós temos o costume de dizer "bom dia", "boa tarde" e "boa noite" ao encontrarmos alguém. Para os indianos isso é muito formal e não é usado no dia-a-dia.
Temos nosso próprio jeitinho de tomar café da manhã: pão com manteiga, café com leite, suco, vitaminas, iogurte. Os indianos comem parontha (pão indiano com batata, pimenta etc), iogurte, lassi, chai.
O Natal ainda é o feriado mais celebrado em nosso país. O Natal na Índia não tem tanta festa, nem é feriado como aqui.
Nós comemoramos o ano novo do calendário gregoriano com muita festividade. Os indianos não comemoram 31 de dezembro com a mesma euforia que a nossa ou não tão em família como fazemos. Os homens saem às ruas para beber então não é comum as pessoas saírem com a esposa e filhos para ver uma queima de fogos na rua.
O ano novo deles é do calendário hindu (calendário lunar) e seria o Diwali. Aqui no Brasil temos várias superstições, gostamos de vestir branco, amarelo, cada cor corresponde a uma energia. Muitas pessoas gostam de passar o ano novo na praia, pular ondas, outros comem lentilha.. Temos os pratos típicos de natal e ano novo como peru, arroz com passas, panetone, e champanhe. Na Índia não é assim. No Brasil é a época que as famílias viajam, se encontram, os amigos convidam para jantar ou almoçar com eles. A pessoa pode nem ser cristã, mas entra no clima de final de ano.
Você já deve ter ouvido falar que os indianos são "muito família". Mas se pensarmos bem, nós também somos mesmo diante do caos que vive nossa sociedade. Temos Dia das Mães, é muito comum as pessoas almoçarem na casa das mães.
Temos Dia dos Pais, época que os restaurantes estão lotados pois muitos gostam de levar o pai para jantar. Dia das Crianças, que apesar de ser uma data muito voltada ao sentido "comercial" não deixa de celebrar a alegria dos pequenos.
Também temos o Dia dos Namorados, que inspira o romance e renova a paixão entre os casais. Na Índia, Dia dos Namorados é praticamente inaceitável.
Eles tem algumas datas que também comemoramos aqui como o Dia dos Pais e das Mães, mas comemoram de um jeito mais tranquilo.
Diante disso, chego à conclusão de que também somos "família" ou pelo menos lutamos pela manutenção dela.
Tem também o famoso churrasco onde as pessoas levam comes e bebes, colocam uma churrasqueira na calçada e curtem o final de tarde. Na Índia não tem disso não.
E por último, gostaria de citar o que eu mais gosto no nosso Brasil e não é tão comum em países do Oriente: o badalar de um sino de igreja.
Sempre admirei o famoso "chamado para oração" que as pessoas gostam de colocar na internet. Mas com o tempo passei a admirar aquilo que está presente no nosso dia-a-dia e não damos valor porque parece tão comum. O badalar de um sino que se mistura ao som de automóveis e barulhos de uma cidade grande. Como me sinto bem ao ouvir o sino de uma igreja! Claro que existem igrejas na Índia, mas não em todos os bairros como temos aqui.
Então é isso, temos nossas tradições, nossos costumes. Confesso que antes eu não enxergava desse jeito.
Admiro muito a cultura indiana mas não posso ignorar a cultura brasileira e desprezá-la. Nenhuma cultura é perfeita. Onde a brasileira falha, a indiana complementa e vice-versa. As culturas nunca podem ser analisadas individualmente. Cultura não se divide, se agrega.
Abraços!!!