Expediente com sotaque
(ROGÉRIO DE MORAES)
Quando chegou a São Paulo para trabalhar na filial da Toyota Tsusho Corporation, o administrador de empresas Jin Hikita, 45, não se conformava em não poder voltar para casa pelo mesmo caminho que utilizava para chegar ao escritório.
"Simplesmente não conseguia entender o sistema de mão única", conta ele, em português pausado, ainda carregado de sotaque mesmo após seis anos por aqui. "No Japão, todas as ruas são de mão dupla: o caminho que você faz para ir é exatamente o mesmo que usa para voltar."
Como todos os expatriados -estrangeiros que vão trabalhar em outro país por tempo determinado-, Hikita teve de enfrentar um intenso processo de adaptação em São Paulo, maior polo de atração desse tipo de imigrante da América Latina.
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, só no ano passado o Estado recebeu mais de 32 mil visitantes com visto de trabalho: o número ultrapassa dois terços do total que desembarcou no país.
Para dar uma força a eles, as contratantes apostam em serviços de treinamento intercultural. As ações envolvem "workshops", passeios monitorados pela cidade, acompanhamento nas primeiras semanas para tarefas como ir ao mercado, receber móveis da mudança e pedir instalação de internet e TV a cabo.
"Não podemos evitar o choque cultural, mas é possível amenizar bastante seus efeitos", afirma Raquel Teixeira, sócia de capital humano e imigração da consultoria Ernst & Young Terco.
O idioma está no topo dos obstáculos enfrentados. O que agrava o problema é a escassez de paulistanos que falam inglês, mesmo que em nível básico. "Fazer as coisas mais simples, como pegar um táxi, ir a um restaurante ou comprar uma roupa no shopping, acaba se tornando uma grande dificuldade", diz Raquel.
Outras características típicas de São Paulo causam impacto, como o trânsito e o custo de vida. Há um mês no departamento de marketing de um banco, a boliviana Mariana Barrientos, 28, sente os dois na pele.
"O trânsito é surpreendente mesmo se comparado a Chicago ou a Nova York, pois lá o transporte público funciona bem", afirma ela, que morou nos Estados Unidos. "Esta é a cidade mais cara onde já vivi."
Apesar dos apuros, a capital paulista acaba tendo um saldo positivo por se sair bem em quesitos como a receptividade aos estrangeiros, coisa rara em outros países, além da diversidade cultural e da cordialidade do paulistano.
Cordialidade, aliás, que marcou Hikita quando ele passou um ano estudando na USP, nos anos 1980. "Uma vez me perdi e um motorista de ônibus me deu carona e explicou como voltar. É o tipo de gentileza que não ocorreria no Japão."
Expatriados (com visto de trabalho) em São Paulo em 2012
EUA.....................................................10.102
Filipinas............................................7.797
Reino Unido....................................4.919
Índia..............................................4.243
Alemanha...................................3.162
Indonésia..................................2.682
China......................................2.639
Itália.....................................2.426
Japão.................................2.261
França..............................2.181
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/revista/saopaulo/sp2907201212.htm
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