sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Leite de Búfala

Não sei como é em toda a Índia, mas nos vilarejos do Punjab da Índia e do Paquistão é muito comum o consumo de leite de búfala. A primeira vez que ouvi isso achei estranho mas agora me acostumei com a ideia e até experimentaria.





Abraços!!




Indiano junta dinheiro por 10 anos para comprar uma ambulância para salvar cães abandonados

Essa notícia merece ser compartilhada. 

"Sabemos que, neste mundo, temos pessoas cruéis e abusadoras de animais sem coração que os negligenciam e os maltratam da maneira mais dolorosa, mas ainda há bondade no coração das pessoas, ainda existem pessoas boas neste mundo e Balu é uma dessas pessoas . Ele é tão dedicado aos animais que ele passou os últimos 10 anos economizando dinheiro suficiente para comprar uma ambulância, que ele vai usar para salvar animais abandonados que precisam de cuidados médicos urgentes. Balu não é veterinário, mas aprendeu o que precisa para lidar com uma situação de vida ou morte dos cães. Ele e sua esposa já salvaram a vida de inúmeros cães doentes e feridos.
barkpost.com

Ele pode ser simples, mas a sua generosidade é extraordinária. Balu guardou o seu dinheiro, não para si, mas para ajudar cães abandonados e usou suas economias para comprar uma ambulância para transportar os cães ao veterinário e cuidar do desabrigados e feridos.


"No início, eu tive um pouco de medo dos cães. Mas quando comecei a trabalhar com eles, eu passei a entender ", Balu explicou . "Eu decidi que não vou fazer qualquer outra coisa - tudo o que faço tem de ser com os animais. Agora estou casado, e minha esposa é também ama os animais. "

www.thedodo.com
Além do seu serviço de ambulância, Balu também cuida de cães em sua casa. Ele é casado com uma mulher que também é um amante dos animais e mantêm 5 a 6 cães em casa, alguns que tiveram suas patas quebradas.

Balu cobra 16 rúpias indianas, por quilômetro, para realizar o serviço de levar animais ao veterinário e usa esse dinheiro para cuidar dos cães e gatos desabrigados que mantém em sua casa.



Balu vive em Pune, Índia.

Fonte: http://www.urdogs.com/amazing-man-saves-his-money-for-10-years-to-buy-an-ambulance-for-stray-dogs/

https://www.thedodo.com/stray-dog-ambulance-1590880808.html

Abraços!!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Minha infância no Brasil e a dele na Índia

Todos temos uma bagagem que carregamos ao longo da vida e as primeiras coisas que colocamos nela são as lembranças da infância. Nós que nascemos nos anos 80 por exemplo, dizemos que fazemos parte da última geração de infância feliz, onde computadores, internet, iphones não faziam parte do nosso cotidiano. A maioria das crianças dessa época acordavam cedo para assistir Xuxa, Angélica, Mara Maravilha, Sérgio Malandro etc. A pressa era chegar da escola, fazer o dever e ter o resto do dia para brincar na rua, jogar bola, esconde-esconde. Sou da época que as meninas brincavam com Bárbie, e os brinquedos da Estrela eram o sonho de toda criança, os filmes de sucesso eram E.T., De volta Para o Futuro, A Bela a Fera, O Rei Leão, Branca de Neve, Fievel entre outros clássicos foram passados nos cinema. São tantas lembranças dos anos 80 e início dos anos 90.  Balão Mágico, Trem da Alegria, Menudo, Dominó...além dos sucessos internacionais da Madonna, The Police, Whitney Houstoun, Michael Jackson, USA for Africa, Desireless(Voyage Voyage) entre tantos outros. 

Provavelmente você que é dessa época sentiu a nostalgia e vai entender a razão da introdução:

Quando você se relaciona com alguém de uma cultura tão diferente da sua provavelmente essas lembranças não farão parte da bagagem dele(a). Definitivamente a maioria viveu uma outra infância, sem a influência americana como tivemos aqui. Muitos não sabem o que é O Rei Leão, nunca ouviram falar no filme Esqueceram de Mim, não sabem quem é o gato Garfield nem os sucessos de Michael Jackson! Muitos não tiveram na infância desenhos da Disney. Não sabem quem é Steven Spielberg. Os brinquedos também não foram os mesmos como patins, skate, e os famosos da época como Pogobol, brinquedo Vai e Vem, Barbie etc.

Atualmente, as crianças indianas de classe média tem acesso a essas coisas, mas quem nasceu na década de 80 não. É outro mundo, tanto para nós quanto para eles.

Mas é claro que descobrimos algumas coisas em comum tanto na Índia quanto no Brasil: doce de leite, bolinha de gude, trenzinho elétrico, Lego a brincadeira  de amarelinha que lá eles chamam de kith kith.

O que também temos em comum são os perfumes. Às vezes uso algum creme ou perfume retrô e meu esposo diz "isso me faz lembrar de minha mãe, quando eu era criança.." Outro dia passei uma colônia bem leve da Phebo , Tuberosa do Egito, e  ele disse..."esse perfume é o mesmo que usa na Índia, eu lembro dessa fragrância, é antiga, tradicional indiana" e a lembrança que ele tem é exatamente a mesma lembrança que tenho, dos anos 80 quando minha mãe se perfumava e não tínhamos essa facilidade para encontrar perfumes importados como temos hoje. É realmente uma fragrância retrô.  Ele pensou que fosse algum perfume da Índia e ficou surpreso quando eu mostrei o frasco brasileiro. Outra fragrância que o faz lembrar da Índia é o Frangipani da Mahogany, e também o Silicon Mix tradicional, aquele cheiro de talco.
 Interessante que as fragrâncias antigas que temos aqui no Brasil são praticamente as mesmas da Índia porque quando alguém passa por nós com um perfume bem antigo somos levados para a mesma época.  

O que posso dizer, é que apesar de bagagens diferentes, a memória olfativa é a mesma, seja aqui no Brasil ou na Índia. Interessante, não?! E assim como os perfumes, as brincadeiras tradicionais atravessavam o mundo já naquela época sem a ajuda da televisão e internet! 
Nunca imaginei que enquanto eu pulava amarelinha aqui, outra criança fazia o mesmo lá na Índia..

Conheça algumas brincadeiras iguais aqui no Brasil e na Índia:















Abraços!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Curiosidades - Filme Punjabi

Ontem assisti o filme Carry on Jatta onde mostra o estilo de vida do Punjab, e o que achei interessante é que as cenas foram filmadas em Jalandhar, a cidade de meu esposo. Não encontrei legendado,  mas coloquei o filme mesmo assim porque mostra como é a vida  em Jalandhar no Punjab. Jatt é a casta dos indianos fazendeiros que cuidam das plantações da família principalmente de trigo e arroz, a razão para o nome do filme.
Lembram quando eu disse que os indianos do Punjab tem um jeito característico ao conversar, gesticulam muito, e nos dão a impressão de que estão brigando quando na verdade estão apenas conversando? Eis nesse filme um ótimo exemplo! 



Selecionei algumas curiosidades: 

5:44  Reparem que quem faz e serve o café da manhã para toda a família é a esposa do filho mais velho. 

6:52 o filho toca os pés do pai dizendo "peri penaa" fazendo o sinal de namaste.

6:56 foto na sala com flores significa que a pessoa é falecida. 

8:46 os indianos gostam de dormir no terraço, a céu aberto por causa do calor. Nessa cena o pai está bravo com o filho que dorme até tarde.

11:23  festa de casamento onde Jass se apaixona por Mahi. Como o casamento indiano tem 3 dias de celebrações, essa é uma das festas.

18:28 noite de henna, as mulheres fazem henna nas mãos e pés, aproveitam a ocasião para conversar sobre casamento, sogros, cunhados..

27:19 Todo mundo chora porque a noiva está deixando a casa e a família para morar com a família do noivo.

31:10 as plantações que são símbolo do Punjab e a dança típica.

37:55 O irmão de Mahi chama Jass para uma conversa para saber quais as intenções dele e força os dois a se casarem no cartório para evitar que a garota fique com má fama já que todos no bairro sabem que eles estão se encontrando.

1:01:26 Veja como são as camisolas indianas. Como as noras vivem na casa dos sogros junto com cunhados e outros parentes, elas usam camisolas assim compridas e sem decotes e transparências.

1:19:20 O filho tenta convencer o pai a deixá-lo casar com a namorada. Mas o pai não concorda.


1:24:40 A família de Preet vai até a casa de Jass propor casamento.

1:44:14 Bhangra, a Dança típica do Punjab


Sinopse

 Jass (Gippy Grewal) se apaixona por Mahie (Mahie Gill) em um casamento de amigos, mas ela só quer se casar com alguém que não tem família e é órfão como ela porque ela não quer ter sogra e nem cunhados. Então, para conquistá-la Jass finge que é órfão e ela se apaixona por ele, mas quando ela conta para o irmão que conheceu Jass ele os obriga a se casarem de imediato no cartório. Então Jass casa com Mahie sem contar ao pai, o advogado Dhillon (Jaswinder Bhalla), irmão Goldy Dhillon (Binnu Dhillon) e cunhada Diljit Dhillon (Anshu Sawhney). Depois do casamento, Jass diz para Mahie procurar uma casa para morarem e ela, por coincidência, consegue alugar um quarto na própria casa de Jass e é aí que a comédia de erros começa: Jass e seu melhor amigo Mel (Gurpreet Ghuggi) preparam vários planos para confundir a família dele porque ninguém sabe que ele se casou. Jass pede para o amigo Mel fingir que é esposo de Mahi, mas Mahi não sabe de nada.  Jass assim pode viver com sua esposa Mahie em sua própria casa sem a sua família nunca descobrir. Mas no decorrer da história, o amigo de Jess se casa com a namorada Preet (Khushboo Grewal) em segredo porque o pai,  Inspetor Sikhander Tiwana (B.N Sharma) não aprovava o relacionamento do filho com a namorada Preet, então ele faz o pai acreditar que quem se casou com Preet foi o amigo Jass.  



Abraços

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Roupas Tradicionais da Índia e Diferenças Regionais - Parte 1

As roupas femininas na Índia variam muito e estão intimamente relacionadas com a cultura local, religião e clima.
As roupas indianas tradicionais femininas são saris, kameez e também Ghaghra Cholis (lehengas).

Para os homens, as roupas tradicionais são o Dhoti, Lungi ou Kurta entre outros. Mumbai, antes conhecida como Bombaim, é uma das capitais da moda da Índia e nos vilarejos da Índia as roupas tradicionais são mais usadas. No Sul da Índia, os homens usam  tecido longo chamado dhoti em Hindi e Bengali e conhecido como veshti em Tamil. Sobre o dhoti, os homens usam camisas, t-shirt, ou qualquer outra coisa. Também muito comum em xadrez.
Alguns exemplos de dhoti:
google

www.ramrajcotton.in

www.rajavivaha.com


As mulheres usam o sari, um longo tecido colorido colocado sobre uma blusa simples ou sofisticada. O sari é usado pelas mulheres jovens e senhoras. 


As meninas usam pavada. A pavada é uma saia longa com uma blusa. 
www.maebag.com

www.stylepinner.com


  Churidar, Dupatta, Gamcha, Kurta, Mundum Neriyathum e Sherwani também são variados estilos de roupas.

Conhecida pelos seus têxteis, tecidos à mão,  ricamente bordados em desenhos exclusivos tem sido apreciados pela civilização ocidental durante séculos. Homens e mulheres indianos sempre gostaram de vestir seus trajes tradicionais e acessórios durante as festas e outras ocasiões que são parte integrante da vida indiana. Recentemente, trajes indianos têm sido bem sucedidos em atrair o mercado global.

O vestuário indiano passou por diversas influências culturais. Dizem os historiadores, que o sari remonta a civilização do Vale do Indo, que floresceu em 2800-1800 aC, na parte norte-ocidental da Índia. Na verdade, estudos mostram que o dhoti dos homens é um protótipo do sari e ambos os sexos usavam  essa vestimenta até o século 14. Acredita-se que o choli,  a blusa da mulher usada por baixo do sari, passou a existir a partir das várias potências coloniais europeias que ocuparam  grande parte do subcontinente indiano. Os britânicos influenciaram as roupas femininas em grande medida. Senhoras indianas da alta sociedade começaram a usar blusas de mangas compridas muito semelhante às do vestuário da rainha Vitória.

www.bbc.com

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Os historiadores dizem que o achkan, um casaco de mangas compridas e botões usado principalmente por homens muçulmanos ainda hoje, se originou na Ásia Central, mais especificamente, era o traje para os nobres persas e turcos. O achkan pode chegar até os joelhos ou abaixo deles.
www.pinterest.com

www.fabgala.com

www.pinterest.com

O Sari

O sari é a roupa tradicional de uma mulher indiana. É um longo tecido que varia de cinco a nove metros de comprimento e pode ser usado em diferentes estilos. O sari é usado sobre uma saia e uma blusa-descobrindo barriga e tem manga curta. O estilo mais popular de usar um sari é dobrando uma extremidade  na cintura enquanto uma grande parte dele é plissado ordenadamente e dobrado na frente. O resto do sari, que é conhecido como o pallu ou Pallav é colocado sobre o ombro esquerdo. O pallu é a característica mais fascinante e impressionante de um sari, muitas vezes é fortemente embelezado com pedrarias ou bordados no tecido.

nomadicdecorator.com

baggout.com

No entanto, esta autêntica peça de vestuário indiana perdeu um pouco de sua popularidade com a influência da mosa ocidental. As roupas ocidentais fizeram uma incursão no guarda-roupa da mulher indiana devido a uma mudança no estilo de vida e rápida globalização de uma cultura corporativa emergente. Hoje as mulheres preferem usar roupas que oferecem facilidade de movimento, além de estilo. Além disso, com o boom na indústria de varejo indianos, existe uma maior variedade de opções e as mulheres são cada vez mais vistas no designer de roupas de estilo ocidental.






Na segunda parte, conheceremos os diferentes tipos de sari.

Abraços!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Qual a proposta do blog?

Quem acompanha o blog há algum tempo, provavelmente sabe como tudo começou, mas sempre temos novos leitores. Meu relacionamento começou virtualmente, e após 3 anos meu marido veio para o Brasil. Desde então eu abri o Café com Chai para escrever sobre o universo indiano, curiosidades, relacionamento virtual, adaptação e vida no Brasil afinal um indiano também tem choque cultural quando vem viver no Brasil e até aquele momento não tinha encontrado na internet nada parecido.

Escolhi o nome Café com Chai porque são duas palavras que representam muito bem as duas culturas. Chai significa o famoso chá indiano. Café é a bebida brasileira.

Além disso, vi que poucos brasileiros conhecem o Norte da Índia e sua rica culinária, a religião Sikh, os indianos do Estado do Punjab, o que me fez ir mais além e também mostrar parte de uma cultura ainda desconhecida para nós brasileiros.  

Eu não moro na Índia, mas vivo a cultura indiana no Brasil.  Então, imagine um blog ao contrário:  a brasileira não foi morar na Índia mas o indiano que veio para o Brasil, precisou se adaptar, aprender novo idioma, fazer novas amizades, novo emprego  etc.
Isso me fez entender que nossa casa é metade indiana e metade brasileira, eu aprendi que para viver em harmonia seria  necessário me adaptar à cultura de meu marido e ele à minha. 

Também gosto de alertar sobre os riscos de uma aventura virtual (qualquer nacionalidade) porque não tenho a intenção de encorajar nem iludir ninguém.  Não encorajo nenhuma brasileira a fazer loucuras pois eu sei  como é quando uma pessoa abre mão de tudo para viver em outro país.

Não escrevo como tudo é perfeito, como sou forte, que sei tudo sobre a Índia. Ao contrário, tenho minhas fraquezas e sobre a Índia não sei nada além do que uma pessoa casada com um indiano saberia.

Tudo o que descobrimos (eu e vocês leitores) aqui no blog fazemos juntos, pois tudo o que é novo para mim gosto de dividir e deixar registrado. Não estou escrevendo para profissionais, mochileiros ou agências,  mas para gente como eu, que gosta de trocar informações sobre a cultura oriental, bater um papo descontraído, informal, sem estereótipos. 

Eu tento fazer do blog um lugar aconchegante, onde você pode tomar seu café ou seu chai e viajar por alguns minutos para a Índia, lá no Oriente, sem histórias de Aladdin ou tapetes voadores mas com os pés bem firmes no chão, em solo brasileiro.



Abraços! 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Como vive um Marajá?

Repórter brasileira entrevista um Marajá


Abraços!!

Perfume do Oriente: Attar

Recente reportagem do Globo Repórter sobre a Índia, os perfumes e o sândalo, um dos tesouros do país.

http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2015/03/fragrancia-feita-na-india-tem-o-cheiro-da-primeira-chuva-da-primavera.html


Encontrei  um documentário (em inglês) mais detalhado sobre o Attar. Muitos deles eu compraria apenas pelo frasco.



Abraços!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Recebendo visitas - Minha experiência

Olá pessoal!! Dessa vez o texto é longo. 

Como escrevi dias atrás, eu estava ansiosa para receber pela primeira vez uma família indiana aqui em casa.  Quando as pessoas vão para a Índia e ficam na casa de alguma família sempre contam as experiências, mas e quando é a vez dos indianos virem à nossa casa, será que eles também sentem algo diferente? Quais as impressões que eles tem da gente?

A família que veio em casa não era do Punjab, a família era de Bihar. 
Fiquei com medo de fazer algo errado, cometer alguma gafe ou algo que comprometesse meu esposo diante deles. 

Eu fiz uma faxina na casa, troquei todas a roupas de cama, lavei janelas, banheiro,  área de serviço, fui ao mercado para reabastecer a geladeira com frutas e legumes porque eles eram vegetarianos.

Depois de  tudo em ordem fui para a cozinha. Cozinhei para 7 pessoas pela primeira vez , não sabia por onde começar, respirei fundo, e comecei cortando os legumes, depois tudo fluiu. Fiz palak paneer, subzi, chole e roti que em português _ espinafre com queijo cottage, refogado de legumes, grão-de-bico e pão indiano (pão sem fermento). Depois que fiquei sabendo que eles eram de bihar pensei que eu deveria ter feito arroz, não sei por que mas acho que eles gostam mais de arroz do que roti. 

 A cada 5 minutos eu olhava pela janela e cada carro que se aproximava o coração disparava, sério, eu estava muito ansiosa e insegura. Pensei, será que vão gostar da comida? Será que conseguirei me manter séria sem conversar muito? Não devo falar com nenhum homem? Será, será será?... De repente a campainha toca, abro a porta e os homens entraram dizendo um Namaskar (sem beijo no rosto e sem aperto de mão) e uma indiana linda que já abriu um sorriso, me beijou no rosto e me abraçou. Meus olhos brilharam quando vi um bebê lindo na minha frente, que alegria ter um bebê aqui em casa!! Meu marido rápido disse no meu ouvido "diga peri penaa para o mais velho.." que significa "toque os pés do mais velho" e assim eu fiz. A primeira coisa que disseram ao entrar foi " nossa, que bonito, que limpo!!"  é claro que fiquei feliz, afinal era essa sensação de limpeza e conforto que eu queria transmitir. 

Logo que eles entraram já fui pra cozinha pegar guaraná e algumas frutas secas e um mix de amendoins para servir a eles e me deparei com a seguinte cena: vários sapatos na entrada da casa e todos descalços. Adoraram os amendoins, frutas secas e guaraná, e claro, acabou a formalidade, o que pra mim foi ótimo.

A primeira coisa que a indiana disse foi: "nossa como você é magrinha!" e perguntou se eu trabalhava fora e se eu limpava a casa sozinha e também quis saber se meu marido me ajudava rs.
O tio deles brincou dizendo que precisava falar com minha mãe para conversar sobre o dote, mas eu já sabia que era brincadeira e caímos na risada. Como brasileira que sou não consegui ficar séria, recebi todos com um enorme sorriso, esqueci todas as formalidades, mas vesti uma roupa discreta como punjabi suit e causou uma boa impressão.

Não sei o que eles esperavam de uma brasileira mas percebi que eles se surpreenderam ao ver que uma mulher que trabalha fora sabe cuidar da casa também e sem empregada, porque na Índia é muito comum as pessoas terem alguém para ajudar na limpeza da casa. Um rapaz disse ao meu marido "você não me contou que aqui seria tão limpo, eu trouxe até um par de chinelos velhos porque não sabia que tipo de casa eu iria, mas aqui eu posso andar descalço!". Será que eles esperavam por uma casa sujinha e bagunçada? 

O mais velho da família me disse que me ensinaria algumas receitas indianas e é claro, adorei a ideia. 

De repente, eles me entregaram um embrulho com uma bata indiana e dois colares de presente.  

Estavam todos cansados e um calor muito forte aqui em São Paulo, tomaram um banho para eu servir a janta. Nessa hora que me surpreendi e vou falar porquê: eu não tenho mesa de jantar porque meu esposo e eu precisamos criar vergonha na cara pra comprar uma. Como somos só nós dois, usamos uma mesinha pequena e nem sentimos muita falta de uma mesa grande, mas nessa hora pensei "e agora?". Coloquei várias cadeiras perto da mesinha e fui pra cozinha. Meu esposo entrou na cozinha e disse "daqui a pouco ela virá te ajudar, fique tranquila" , ele falou com uma certeza de que a indiana viria para a cozinha me ajudar mas no fundo eu não queria que fosse assim porque eu queria que ela descansasse. Dito e feito, a indiana entrou na cozinha e já começou a colocar as comidas nas travessas, já levou tudo pra sala de um jeito super natural.

Quando cheguei na sala pra servir as visitas me deparei com uma cena que pra mim não é comum: ignoraram as cadeiras, cada um se serviu e sentou no chão, todos super despreocupados comendo com as mãos. O que eu achei interessante foi ver os homens levantarem e eles mesmos se servirem, não vi a esposa servir marido, ou esperar ele comer, aquela coisa toda que falam por aí. Enquanto eu ficava admirada com essas coisas, eles ficavam admirados ao me ver comendo com as mãos e o fato de eu ter feito comida indiana sozinha. O marido da indiana logo disse "veja, ela também come com as mãos, como a gente!!". Então eu disse que só a comida indiana eu uso somente as mãos, mas a comida brasileira uso garfo e faca. Perguntaram também como eu aprendi a fazer comida indiana, e meu marido respondeu: "Youtube!" 

A indiana que eu chamo de "bhabi" (significa cunhada) terminava de comer e já levava tudo pra cozinha. De repente escutei prato e panela batendo, uma barulheira danada, e quando vi era ela lavando a louça e tinha deixado a cozinha um brinco. Eu falei que não era para ela lavar louça, era pra ela descansar e ficar com o bebê, mas ela disse que lavaria rapidinho. E fez mesmo, coisa que eu levo 20 minutos pra fazer ela fez em 5. Vi que não adianta, a mulher indiana é ensinada desde pequena a ser assim e eu percebi que se ela não faz nada na cozinha é vista como folgada. Percebi também que o homem indiano espera e cobra isso da mulher porque quando a bhabi quis tirar meu prato da mesa e levar pra cozinha eu disse que não precisava, ela insistiu e o tio dela disse "deixe, a mulher precisa trabalhar na casa" (o que eu entendi foi: "a mulher não pode ser folgada e se dar ao luxo de não fazer nada"). Mas ela faz de uma maneira tão natural, sempre sorrindo,  e a gente aproveitou esse momento na cozinha pra conversar bastante coisa que não conversaríamos na frente de homem pois eles ainda mantém certos limites, homens e mulheres não se misturam muito. Ela ficou muito feliz quando a chamei de bhabi, quando eu a chamei assim ela disse "nossa, você conhece a palavra bhabi!" e desde então ela passou e me chamar assim também. Meu marido disse que nós somos Didi (sister) mas eu não sabia, então ficou Bhabi !

Ela disse que o Brasil é muito diferente e o que mais chamou a atenção dela foi o fato das mulheres namorarem bastante e só depois casarem, além de se casarem com mais idade do que na Índia. Eu perguntei se o casamento dela tinha sido arranjado, ela respondeu que sim, e que se casou aos 23 anos. Realmente existe uma diferença, porque eu me casei aos 27 e no Brasil é uma idade boa, mas na Índia eu estaria para titia. Ela disse que na Índia não tem namoro, você já se casa direto e isso a fez pensar muito na vida. Ela perguntou se minha vida mudou muito depois do casamento, eu disse que sim, 100% e eu perguntei "e a sua?" e ela respondeu "também". Eu acho que falta conversa entre as mulheres, elas sabem que terão que se casar mas não imaginam o que está por vir. No Brasil a gente se prepara, mas na Índia você pode estar solteira hoje e casada amanhã sem ter muito tempo para se preparar psicologicamente, por isso elas sentem uma mudança drástica da vida de solteira para a vida de casada. A mulher indiana não é ignorante, o que falta é encontrar alguém que converse normalmente com ela coisas que ela quer saber. 

Na sala, todos conversaram comigo normalmente, me respeitaram muito, mas eu percebi que a bhabi não ficava na sala conversando e assistindo TV todos juntos como faríamos com uma família brasileira. Ela ficava ou no quarto ou na cozinha e só ficava junto deles durante as refeições. Vi que ela quase não conversava com os homens da casa, só falava o essencial, não tinha assunto. Em compensação tiramos dia de mulherzinha, ela amou meu esmalte vermelho e quis passar igual e quis passar chapinha no cabelo também, que na minha opinião nem precisava pois ela era uma indiana jovem de 26 anos com os cabelos bem grossos, escuros e lisos. Lindo, lindo o cabelo! Mas ela ia para a Índia rever a família então queria ir bem bonita. 

Uma coisa que percebi é que a família indiana é muito unida para cuidar de criança. No início do post falei que veio uma bebezinha linda de olhos verdes, filha da bhabi. O que me chamou atenção foi o fato de ver cada um cuidando um pouco dela, incluindo tio, eles não ficavam só brincando com a criança, eles cuidavam mesmo. Até meu esposo cuidou um pouco dela. O pai está sempre presente. Pelo menos na minha experiência com as famílias brasileiras, eu vejo o bebê na maioria das vezes com a mãe, mas nessa família indiana eu vi o pai muito presente e carinhoso com a bebê, assim como os outros membros da família. Era só a bebê chorar que ele aparecia, ajudava a dar banho, etc. Vocês precisavam ver o sorriso dele quando eu disse que queria tirar foto da bebê, ele tinha muito orgulho dela.

No último dia, o tio dos indianos entrou na cozinha e disse: "hoje você não vai cozinhar nada, hoje eu vou cozinhar" e eu fiquei do lado para aprender a nova receita que ele me explicava enquanto fazia.
Após o almoço todos descansaram um pouco porque teriam que viajar de madrugada para a Índia. 

Na hora de ir para o aeroporto, bhabi trocou o vestido indiano do Brasil por uma calça e blusa de mangas compridas e quando tirou um pacotinho da bolsa eu vi a deusa Lakshmi se transformar diante dos meus olhos: toda aquela simplicidade reluziu em ouro. Apareceram os colares, brincos, pulseiras, anéis, piercing no nariz..tudo de ouro e pra finalizar um batom, só um batom! Pra que maquiagem com tanto brilho, não é verdade? Foi aí que percebi a segurança que ela sentia ao ir pra Índia, pois aqui no Brasil temos medo de usar um brinco e ela não usava nada, mas na hora de embarcar pra Índia foi toda montada porque ela sabe que lá dá pra usar.  

Eu fiquei super feliz, foram os melhores dias aqui em casa, são pessoas adoráveis, simples e trouxeram muita alegria. Bhabi é uma típica indiana, doce, meiga e o restante da família também.

Eu acho que eles não esperavam por muitas coisas assim como eu também. Esses poucos dias nos ajudaram a quebrar estereótipos que eles tem sobre a gente e que nós temos sobre eles. Acho que eles imaginaram uma mulher desinibida, que não sabe cozinhar nem limpar a casa e não conhece nada dos costumes indianos e eu imaginava uma família séria, com ar de superioridade, fria e difícil de agradar. Ambos os lados, brasileiros e indianos, aprendemos alguma coisa nesses poucos dias de convivência e uma delas foi "conheça antes de julgar".

Posso dizer que deu tudo certo, e se eu cometi alguma gafe, não me deixaram perceber!

Foi uma experiência incrível!!!

Abraços!!